Pesadelo, só pode ser pesadelo! Alguém me diga que eu vou acordar...e que tudo vai voltar ao normal, que a minha cidade que é considerada a Suiça da serra fluminense não é manchete dos jornais do mundo inteiro como a maior tragédia climática do Brasil.
Eu acordei as duas da madrugada da terça pra quarta com o telefonema do meu irmão Thiago, ele queria saber como estávamos, depois foi uma sucessão de telefonemas nos informando dos carros que boiavam pela Vila Amélia mas só me dei conta do horror quando uma amiga que mora na Vilage no meio da ligação começou a gritar, seu pai fora salvar a vizinha e o barranco começava a descer, me lembro que sentei na cama e orei, orei por nós e por todos que moram em lugares de risco.
A quarta amanheceu sem nem eu pregar os olhos, acordamos sem luz, e sem água na rua, mas quando fui ao centro da cidade que me dei conta do horror do qual as pessoas passaram, era como um cenário de filme, irreal, a luz volta no fim do dia, ligo a televisão e nos informam que a situação é bem pior, mas foi na quinta quando Waguinho, bombeiro, vizinho da minha irmã, nos relata que entre os bombeiros que foram soterrados estava Vitínho, um menino que ví crescer e se tornar um homem, levei um soco na boca do estômago, não era mais um número de mortos na televisão, era alguém que eu conhecia, que embora tenha mudado da minha rua um tempo, era sempre doce, simpático quando nos encontrávamos, ele achava engraçado eu chamá-lo de Vitínho já que ele tinha se tornado um homão e ainda por cima fui pega por uma onda de não ter notícias de amigos, o meu medo então só fazia crescer.
Já perdi a conta de quantas vezes chorei e choro, basta uma reportagem, um lugar que vejo destruído, a soma de mortos, sei que a culpa só cabe a nós, somos nós que devastamos florestas, que construímos casas de maneira desordenada em encostas, que não respeitamos a natureza, mas fica um ranço amargo, parece que nós é que pagamos essa conta de maneira bem cara.
Sei, que Friburgo vai se recuperar, aprendi a amar esse povo que nos acolheu, sei do valor que eles tem, a cidade que meu pai há vinte e cinco anos escolheu pra nossa família viver é meu lar, aqui fiz centenas de amigos, ganhei parentes emprestados, fiz minha vida, isso foi só um capítulo ruim e que dias melhores virão.
Mas agora se formou um vazio, o vazio da falta dessas pessoas, do João, Maria, da Cida, Fernando, Joana, Carol e de tantos outros nomes que estão numa lista, mas pra nós não são só uma contagem de mortos, são amigos, parentes, vizinhos que não iremos mais ver circulando pela Alberto Braune, que não vamos mas encontrar numa fila de cinema ou numa mesa de bar. E disso não dá pra se recuperar, não basta recursos do governo estadual, federal ou sei lá mais o quê...essas pessoas nos farão falta e muito.
Bjocas pra todos vcs!
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